Números não param de crescer em todo o país,
de acordo com
levantamento divulgado pela UFMG
Belo Horizonte é a terceira capital do Brasil com maior
número de moradores em situação de rua, segundo levantamento divulgado nesta
segunda-feira (14/4) pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a
População em Situação de Rua da Universidade Federal de Minas Gerais
(OBPopRua/POLOS-UFMG), com base em dados do Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Combate à Fome.
De acordo com o estudo, em março deste ano, 335.151 pessoas
viviam em vias públicas no país. Desse total, 14.454 — o equivalente a 4,3% —
estavam em BH, que ocupa o terceiro lugar entre as capitais com maior número de
pessoas nessa condição. Em todo o estado de Minas Gerais, 30.355 indivíduos
estavam em situação de rua. O estado também aparece em terceiro lugar no
ranking nacional, com 9% do total registrado no país.
As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, assim como os
estados em que estão localizadas, concentram o maior número de habitantes
vivendo nas ruas. Com isso, a Região Sudeste reúne a maior quantidade de
pessoas em situação de rua no país: são 208.791, o equivalente a 63% do total
nacional.
Crescente
A pesquisa revela um crescimento constante no número de pessoas vivendo nas ruas em
todo o país. Em 2013, eram 22.922 nessa situação. Esse total subiu para 138.332
em 2018, chegou a 261.653 em 2023 e alcançou 327.925 em 2024. Nos primeiros
meses de 2025, o avanço continuou: foram 329.370 em janeiro, 332.180 em
fevereiro e 335.151 em março.
Violência
Ainda de acordo com a pesquisa da UFMG, entre 2020 e 2024, o
Disque 100 registrou 46.865 casos de violência contra a população em situação
de rua, sendo metade dessas ocorrências nas capitais brasileiras. Belo
Horizonte aparece como a quarta capital mais violenta do país nesse contexto,
com 1.283 registros no período.
Perfil
Ainda de acordo com o levantamento, 294.467 pessoas em
situação de rua no país — o equivalente a 88% do total — têm entre 18 e 59
anos. Em relação à escolaridade, 52% não concluíram o ensino fundamental ou não
têm nenhuma instrução. Já 272.069 dessas pessoas (81%) sobrevivem com uma renda
mensal de até R$ 109.
Quanto às questões de gênero, 281.269 pessoas em situação de
rua (84%) se identificam com o sexo masculino, enquanto 53.882 (16%) com o sexo
feminino. Outras 4.718 se declaram com identidade de gênero masculina e 1.074,
com identidade de gênero feminina. O levantamento também registrou 29 pessoas
não binárias, 346 com identidade transgênero e 78 travestis. Ainda há 329.330
indivíduos sem informação declarada.
Políticas públicas
A pesquisa destaca a "ausência e/ou insuficiência de
políticas públicas estruturantes, como moradia, trabalho e educação".
Samuel Rodrigues, coordenador do Movimento Nacional da População em Situação de
Rua (MNPR) em Minas Gerais e membro do Comitê Nacional de Acompanhamento e
Monitoramento da Política para a População de Rua (Ciamp-Rua), compartilha da
mesma visão. Ele ressalta que há subnotificação em relação ao número de pessoas
em situação de rua, e que o total pode ser até 30% maior.
"Na minha opinião, os números crescem semanalmente
devido à ausência de políticas públicas efetivas para este segmento",
avalia. "Ainda é preciso sair da seara da assistência social e da saúde, e
iniciar a produção de moradias para essa população, além de outras políticas,
como trabalho e renda, segurança pública, cultura, entre outras. Os números
continuam crescendo porque não há uma política ou estratégias preventivas que
atuem antes que pessoas ou famílias passem a viver em situação de rua", conclui.
Contatada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte
(PBH) informou que "o Executivo municipal adota uma série de medidas
voltadas ao atendimento das pessoas em situação de rua. Nos últimos anos, a PBH
reconheceu essa pauta como prioritária, ampliando e qualificando a oferta de
serviços em diversas áreas, como habitação, saúde, educação, trabalho e
emprego. No ano passado, foi criada, dentro da política de Direitos Humanos, a
Diretoria de Políticas para a População de Rua, Migrantes e Refugiados,
responsável por dialogar com as diferentes áreas do Executivo municipal e com
as instituições envolvidas na temática."
REPORTAGEM DE ALEXANDRE CARNEIRO PUBLICADA EM 14/04/2025 NO PORTAL DO JORNAL ESTADO DE MINAS
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