segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Relatos da EXPEDIÇÃO MERCOSUL 2007 Braulio Lara e Thiago Abreu de YAMHA XT660




Foi uma aventura inesquecível. Rodamos 10150 km, durante 30 dias, pelos países do Mercosul conhecendo o Uruguai, a Argentina, o Chile e o Paraguai. A viagem se iniciou no dia 29 de dezembro de 2006. Eu e meu amigo (de longa data) Thiago Abreu saímos de Belo Horizonte, em duas motos Yamaha XT660R em direção de um lugar distante o qual ainda não tínhamos ao certo a dimensão de sua beleza. O destino nos levava para a Cordilheira dos Andes, que se convertia em uma realização de um sonho que há muitos anos tínhamos iniciado.
Não foi a minha primeira viagem de longa distância. Em 2004 percorri todo o Nordeste do Brasil, de XT600E, só que sozinho. O frio na barriga na hora de sair deve ser o mesmo. A expectativa e a ansiedade sempre estarão presentes. Posso apostar que o Thiago também estava vivendo as mesmas aflições, mesmo porque, era sua primeira viagem desse tipo. No primeiro dia, fomos até São Paulo. Foram 620 km. Pegamos um pouco de chuva na estrada. Chegamos em São Paulo no final da tarde. Fomos para a casa da minha Tia Marina, onde fizemos uma visita e passamos a noite.
No dia seguinte, fomos para Camburiú, no estado de Santa Catarina. Foi um dia pesado, pois era dia 30 de dezembro, sábado, e havia um movimento muito grande na rodovia. Descemos para o litoral paulista pela rodovia dos imigrantes. Pegamos um congestionamento de mais de 60 km. Ainda bem que estávamos de moto, pois fomos andando pelo corredor de carros, seguindo o rastro dos motociclistas de São Paulo, a 80 km/h. Foi um dia de trânsito intenso. Chegamos em Camboriú no final da tarde. Rodamos 700 km. Procuramos um hostel da rede credenciada para nos hospedarmos mas todos os lugares estavam ocupados. O Thiago lembrou que alguns amigos tinham ido passar o Reveilon naquela cidade. Sendo assim, ligamos para eles e descobrimos que no apartamento que alugaram, tinham dois lugares disponíveis. Encontramos com a turma, na praia dos Amores, e então nos hospedamos. No dia seguinte, fomos à praia, que por sua vez é muito agradável. Achamos uma tenda que alugava pranchas de surf. Como bons mineiros, surfistas de ocasião, alugamos duas pranchas e caímos no mar. Ficamos uma hora surfando as ondas de Camburiú. Mais tarde, preparávamos para o ano novo. Fomos para a praia Brava, no município de Itajaí, onde uma multidão se concentrava aguardando a meia noite. Ficamos em frente a boite Arung, mas por volta das 11h30, desceu uma chuva inesperada, o que fez com que muita gente saísse correndo tentando achar um lugar coberto. Mas a chuva foi somente para dar uma molhada na galera. Passou rápido e acabou não tirando o entusiasmo das pessoas que comemoraram com fogos e champagne a entrada de 2007. Logo após a virada, o que comandou a festa foi a música eletrônica nas tendas montadas na praia.
No dia primeiro, fomos seguir viagem. Nosso destino era Porto Alegre. Chegamos em Porto Alegre ainda durante a tarde. O sol estava castigando e o tempo estava muito quente. Chegamos então na casa de minha tia Telma, aliás minha madrinha. Reencontrei minha família gaúcha que a aproximadamente a 8 anos eu não visitava. De cara fomos para a piscina para aliviar o calor. Mais ao final da tarde, fomos, juntamente com o Tio João Paulo e minhas primas Lúcia Helena e Ana Luiza, ao Calçadão de Ipanema, na margem do rio Guaíba. Incrivelmente, às 20h25 ainda tinha sol. Presenciamos na praia de Ipanema um belíssimo pôr do sol. Então, fomos para casa novamente colocar os assuntos em dia.
Durante a viagem, a partir de conversas de posto de gasolina, uma dúvida começou a pairar em nossas cabeças. Segundo informações obtidas no guia 4 rodas e na internet, a exigência para que um veículo possa cruzar a fronteira é que ele esteja em nome do condutor. Porém como minha moto estava alienada, começou a surgir a dúvida: o veículo alienado pode ou não transpor a fronteira? Na terça-feira dia 2, fomos entrar em contato com o Consulado Argentino e o mesmo assegurou que era necessário, em caso de alienação, uma autorização do banco credor, reconhecida em cartório e homologada em todos os consulados por onde fossemos passar. Então foi o início de uma novela. Ficamos 3 dias em Porto Alegre cuidando de burocracias para conseguir a tal autorização. Conseguimos ter o documento pronto apenas na quinta-feira. O ponto negativo foi que NENHUMA fronteira pediu o documento, o que acabou fortalecendo a tese de que o mesmo era desnecessário. O que importa é se o veículo está em seu nome. O ponto positivo foi que tivemos mais tempo para conhecer Porto Alegre. Passamos no estádio Olímpico do Grêmio e no estádio Beira Rio do Internacional. Conhecemos também um lugar um tanto quanto exótico: fomos ao Cemitério São Miguel Arcanjo. Na verdade, o que nos atraiu foi a forma com a qual o mesmo é organizado. É um prédio onde os túmulos são gavetas bem organizadas em cada andar. É um show em termos de organização do espaço, beleza e utilidade, pois nem a chuva passa ser problema para uma visitação. Como nunca tínhamos visto isso antes, registramos várias fotos.
Os dias de estadia em Porto Alegre também tiveram a sua relevância didática. Compramos o livro “Como dizer tudo em espanhol” e começamos a estudar a língua e suas expressões. Comecei aprender espanhol duas semanas antes da viagem, a partir de um livro didático de gramática. O problema é que o aprendizado acaba se consolidando apenas quando você já está imerso em outra língua, e que acaba não tendo outra opção: “hablar o hablar”.
Então, na sexta-feira dia 5 de janeiro, seguimos sentido Punta Del Leste no Uruguai. Cruzamos a fronteira no Chuí, extremo sul do Brasil. Quando chegamos na Aduana Uruguaia, o coração batia forte. Quando os fiscais começaram a falar, era impossível entender uma palavra. A sorte foram os gestos que nos direcionaram para o guichê do serviço de imigração. Apresentamos o passaporte, o documento da moto e preenchemos um formulário. Como disse, não pediram a tal autorização e nem o seguro Carta-Verde. O seguro Carta-Verde é um seguro contra terceiros e é exigido de todos os condutores de veículos estrangeiros nos países do Mercosul  Fizemos pela Magna Corretora de Seguros, por meio de sua representante na cidade do Chuí, a Cesul Transportes.
Já em solo uruguaio, rindo a toa, fomos até Punta Del Leste. A estrada é muito bem conservada, plana e reta. Mesmo com essas características, notamos que os uruguaios todos respeitavam o limite de velocidade da via, muitas vezes bem abaixo do limite superior de 110 Km/h. Tínhamos certeza que realmente estávamos entrando para um país diferente, com uma cultura diferente. As paisagens são belas: campos imensos, árvores e plantações. Um vento frio começava a bater. Na estrada, encontramos outro motociclista viajando. Nosso agora amigo, o carioca Joham, estava sozinho em uma Yamaha Virago 535 e acabou indo conosco para o hostel onde nos hospedamos.
No Hostel Manantiales fizemos várias amizades. Franceses, Espanhóis, Uruguaios, Argentinos, Mexicanos, Canadenses, Americanos, Brasileiros e Ingleses. No nosso primeiro café da manhã em solo estrangeiro, no famoso “desayuno”, conhecemos uma uruguaia que se chama Inês. A Inês nos ajudou bastante nos primeiros momentos precisando falar espanhol. Como a irmã dela vive no Brasil, ela sabia falar português e então nos ajudou nas primeiras frases em espanhol. É desesperador você chegar na cozinha, botar açúcar no seu café e humildemente precisar de um colher. Você chega para a copeira e diz: “_ Preciso de una colher!!!” A mulher te olha não entendendo nada. E você começa a fazer gestos igual a brincadeira de mímica. A sorte que a Inês estava do nosso lado e começou a passar as coordenadas.
Depois da experiência do café da manhã, tinha certeza que precisa estudar mais. Peguei os livros e fiquei lendo. Acho que o fato de eu estar estudando, despertou uma certa atenção na galera e então, alguns minutos depois, os espanhóis que estavam lá e a nossa amiga Inês começaram a praticamente nos dar aula. Tiravam as dúvidas, explicavam a pronúncia das palavras e o mais importante: conversavam conosco. O bom é que depois de alguns dias, você vai ficando mais a vontade com a língua e então tendo mais facilidade de se expressar.
Depois de ler todo o livro didático e dar uma folheada no livro de expressões, resolvemos sair para conhecer a praia de Manantiales, apesar que nesse dia, o Thiago não estava muito bem pois havia comido uma carne na noite anterior e teve uma indigestão. Ao chegar na praia, a primeira conclusão foi que a água era gelada refletindo exatamente o que é estar fora da zona tropical do globo. Outra observação era que todas as casas eram muito bacanas. Bom sinal que ali era lugar para grã-fino. Mas como bons viajantes, o nosso negócio era aproveitar. Após algum tempo, retornamos ao hostel, pegamos uma moto e saímos para passear pela cidade e fotografar.
Punta del Leste é uma cidade muito bonita, com uma arquitetura moderna e arrojada. Muitos argentinos, no período de férias, vão para Punta del Leste curtir a praia. Muitos carros bonitos circulando. Realmente é uma cidade encantadora. No entanto, os carros uruguaios de um modo geral são carros velhos e mal conservados. Um verdadeiro museu de carroças. Conhecemos o hotel Conrad, fomos ao Shopping e fomos almoçar no McDonalds. Naquele dia começamos a respeitar o importante papel do McDonalds. Quando você está longe de casa, e não quer arriscar nas refeições, você sempre está seguro que o BigMac é o mesmo em qualquer lugar.
À noite, no hostel, teve um rodízio de pizza organizado pela administração. É um bom momento para integrar a moçada. Acabou que ficamos conhecendo outras pessoas. Conhecemos uma uruguaia, chamada Gabriela, que é fascinada com o Brasil. Tem a bandeira, camisa, etc. Ela também falava português, visto que já morou no Rio de Janeiro e hoje é professora de português no Uruguai. Conhecemos uma turma de argentinos. O Thiago inclusive ficou com uma argentina chamada Martina. Ficamos até altas horas conversando com a galera. No entanto, às duas da manhã, o pessoal foi sair para uma boite. Fiquei encabulado com o horário. Mas existe uma explicação para o fato: lá fica escuro por volta das nove e quinze.
No dia seguinte fomos para Montevideo. Foram aproximadamente 170 km de viagem. Chegamos no início da tarde, fomos para o hostel Che Lagarto e de lá saimos para conhecer a cidade e também para almoçar. Era domingo e a cidade estava muito calma. A capital uruguaia é uma cidade bonita, com estilo europeu muito forte e repleta de monumentos. Almoçamos em um bom restaurante e saimos para conhecer a cidade e fotografar. Não vimos sentido de ficar mais outro dia em Montevideo. Logo decidimos no dia seguinte seguir para Buenos Aires na Argentina.
Naquela semana, a Argentina e o Uruguai estavam conflitos: ambientalistas argentinos fecharam todas as pontes de acesso da Uruguai para a Argentina. Eram manifestações contra as indústrias de papel do Uruguai. O fato é que não havia passagem rodoviária do Uruguai para a Argentina. A única opção que tinhamos era ir de barco, chamado Buquebus. Então no dia seguinte, fomos para o porto e embarcamos rumo a Buenos Aires. Foram quase três horas de viagem no mar. Novamente, na aduana Argentina, não fomos cobrados do tal documento autorizando o veículo alienado.
Durante a viagem, conhecemos outro aventureiro motociclista que estava sozinho indo para a Patagônia. O Sr. Francisco é maranhense e mora em Santa Catarina. Ele estava em uma Honda Falcon. Aproveitei o FreeShop do Buquebus para comprar algumas coisinhas. Apesar do preço da passagem (você tem que pagar uma para você e outra para a moto), foi interessante ter ido de barco pois descansamos enquanto estavamos deslocando.
Ao chegar em Buenos Aires, fomos para o hostel Chelagarto Buenos Aires. O hostel fica próximo da avenida 9 de Julio, próximo ao Obelisco, que é um dos principais monumentos da capital argentina. No hostel, conhecemos duas francesas e quatro israelenses.
No dia seguinte saimos para conhecer Buenos Aires. Fomos à rua Flórida, onde fica o centro comercial. Depois fomos almoçar e sentamos em restaurante para comer lasanha. Como diz o Thiago, “a lasanha não é a mesma coisa”. De fato, tinha espinafre e outras coisas que não cativaram o nosso paladar. Na parte da tarde, fomos em lojas de moto comprar óleos lubrificantes para colocar nas motos. Fizemos a troca de óleo e abastecemos as motos para ficarem prontas para o dia seguinte. Nossa meta era dirigir 1000 km até a cidade de Mendonça.
O dia amanheceu chuvoso e arrancamos de Buenos Aires embaixo de chuva. Não tivemos dificuldade para sair da cidade. Pegamos então a Ruta 7 em direção ao Oeste. Durante a viagem, tivemos um imprevisto. Diante das fortes chuvas que estavam atormentando a Argentina, fizemos um desvio de 200 km para escapar de um trecho que estava inundado. Trocamos um trecho de 258 km por um de 470 km. Isso inviabilizou nossa empreitada de chegar em Mendonça. Então, como já era noite, paramos na cidade de Vila Mercedes na província de San Luis para nos hospedarmos e dormir.
Ficamos em um hotel no centro da cidade. De manhã, quando levantamos, estava chovendo. Preparamos as bagagens, abastecemos e voltamos para a Ruta 7, seguindo viagem em direção à Cordilheira dos Andes. No meio do caminho, novamente pudemos perceber os transtornos da chuva na Argentina. Apesar de termos pego apenas alguns pingos durante o trajeto, em um determinado ponto da estrada, havia um enxurrada gigante que inundava toda a pista. Apenas caminhões estavam conseguindo passar sendo que os veículos podiam passar apenas em uma das pistas (mais raso). Policiais organizavam o trânsito. Após registrar algumas fotos, passamos facilmente pelo “lago” e seguimos em frente.
Após passar por Mendonça, continuamos seguindo em direção a Uspallata. Desse ponto em diante podíamos ver as montanhas da primeira etapa da Cordilheira. A mudança na estrada é imediata. Curvas a todo momento certificavam nossa presença em uma região montanhosa. Cada vez mais as montanhas nos impressionavam. A paisagem realmente se demonstrava única. Então começamos a parar para bater fotos. No primeiro lugar, montanhas gigantescas cercavam um lago de cor azul. Uma maravilha! Pena que quando vimos a foto, tínhamos certeza que ela não conseguia demonstrar na totalidade o que tínhamos visto. Mais adiante, um quiosque de esportes radicais organizava atividades de rapel e rafting. Resolvemos entrar para ver. Para chegar ao local, era necessário passar por uma pequena estrada de terra. Como se não bastasse os anos de experiência com motos, inclusive no off-road, o Thiago fez questão de tomar um tombo ao deixar sua moto deslizar a roda dianteira sobre um trilho de trem (ô rôia!!!). Até hoje, ele jura que não tinha prestado atenção. Porém, com moto não se permite não ter prestado atenção. Resultado: estava o corpo estendido no chão pedindo socorro para ajuda-lo a sair de baixo da moto. Sinceramente, quase bati uma foto, mas como fiquei grilado de ele estar se machucando, corri e ajudei a levantar a moto. Depois sim, bati a foto. Pode-se dizer que o Thiago comprou um terreno em plena Cordilheira dos Andes, ainda na Argentina, e com direito à escritura (ralou o joelho e ainda torceu o tornozelo).
Depois de ter passado o susto e detectado que a moto não teve problemas, seguimos viagem até Uspallata. Chegamos era ainda tarde e o sol estava alto. A 1 km do hostel onde iríamos hospedar, tive o primeiro e único problema mecânico da viagem: ao acionar o freio traseiro, escutei um barulho forte acompanhado de um cheiro de queimado. Ao estacionar no hostel, fui verificar e detectei que uma das pastilhas de freio traseiro havia acabado. Então, a parte metálica da pastilha atingiu o disco, fundindo “ferro com ferro”, danificando o mesmo. Fiquei grilado de não te olhado a pastilha de freio antes de acabar. No entanto, ao detectar que somente de um lado havia acabado, levantei uma hipótese de falha de material pois normalmente as pastilhas dos dois lados se desgastam por igual. Pensei na possibilidade de ter passado com a moto dentro d´água e ter provocado um problema no material, pois como estávamos viajando apenas em retas até então, tinha usado o freio muito pouco. Outro ponto que fiquei chateado comigo mesmo foi de não ter levado pastilhas reserva. Mas de qualquer forma, estávamos na esperança de consegui-la no Chile, em Santiago, onde a YAMAHA também comercializa a moto.
Depois de tomar um banho, saímos para comprar comida. Chegamos em um armazém em uma pequena vila e que estava fechado. Pouco tempo depois, a dona do negócio chegou, abriu a vendinha e nos vendeu alguns biscoitos, chips e refrigerante. Voltamos para o hostel, fizemos um lanche e fui me preparando para lavar roupa. Gentilmente, o dono do hostel, que chamava Daniel, pegou nossas roupas e colocou na máquina. Que maravilha! Acho que já não tinha cueca para o dia seguinte. Visto que essa atividade ficou para a máquina, fomos jogar ping-pong (tênis de mesa).
O Thiago, como desculpa de perdedor, dizia que o problema era seu pé que estava doendo. Apanhou de balaiada! Acho que até mesmo para descansar de um dia muito intenso, o mesmo resolveu dormir cedo. Conheci outros amigos no hostel. Argentinos e Canadenses estavam por lá hospedados. Aproveitei que o Daniel tinha um violão e ficamos até tarde fazendo um lual. Uma das argentinas também tinha levado um violão e acabou sendo uma noite muito agradável, ao som de violão e abaixo de um céu cheio de estrelas. Segundo o Daniel, estávamos à 2.400 m de altitude. Então até podemos dizer que estávamos mais perto do céu.
No dia seguinte, com a roupa toda lavada, arrumamos a bagagem para seguir até Santiago. Era um dia muito especial pois iríamos cruzar a fronteira naquele dia, além de também chegar no ponto mais alto da travessia. Como estava sem freio traseiro (se precisasse usar, ia funcionar, mas estragaria mais e mais o disco de freio) resolvemos ir mais devagar. Por termos sidos muito bem recebidos pelo Daniel, demos uma camisa da Expedição Mercosul 2007 para ele. Com a bagagem toda pronta, saímos, passamos no posto e seguimos rumo ao Chile.
Acho que foi o dia mais especial da viagem. Primeiro porque estávamos realmente cruzando a Cordilheira. Segundo porque estávamos chegando ao Chile, ou seja, longe de casa, e já próximo do oceano pacífico. Cada montanha que víamos era um espetáculo à parte. Algumas mais altas, mesmo no verão, ainda tinham neve. E a neve, por estar constantemente derretendo, formava filetes d´água que desciam pelas montanhas para formar mais abaixo rios maravilhosos. Um espetáculo! Da estrada podíamos avistar o Pico do Aconcágua, que fica a 6.959 m de altitude. Claro que paramos para fotografar. Nesse ponto, na base da montanha devíamos estar a aproximadamente 3.000 m de altitude. Seguimos um pouco mais e encontramos um centro de apoio turístico que indicava o acesso para o “Cristo Redentor do Aconcágua”. O Cristo fica no alto da montanha, à 4.500 m, bem na divisa entre a Argentina e o Chile. Procuramos nos informar se era possível ir até lá sem problemas. Uma moça que trabalhava no local nos informou que carros vão até lá e que a estrada de terra não estava com nenhum problema. Como o negócio era aventura, encaramos 8 km de estrada de terra até o Cristo.
As motos ignoraram o problema da altitude. Funcionaram perfeitamente durante todo o percurso (mas eu continuava apenas com o freio dianteiro). No meio do caminho já encontramos algumas placas de gelo que estavam ainda se derretendo. Paramos, pisamos no gelo, tiramos fotos e com certeza, rindo à toa. Chegamos no topo e vários turistas estavam lá registrando fotos. Encontramos um brasileiro, gaúcho, que estava viajando de carro e que por coincidência ultrapassamos o mesmo várias vezes na estrada no dia anterior. Encontramos uma turma de argentinos que estavam também viajando de moto (Honda Twister). Eles disseram que as motos quase não conseguiram subir. Essa foi a grande diferença pela opção pela XT660R.
A XT660R possui injeção eletrônica de combustível (primeira fabricada no Brasil). Então, ela é capaz de automaticamente dosar a quantidade de combustível enviada ao motor de acordo com as condições de pressão atmosférica. Nas motos com carburador, isso não acontece. A regulagem é fixa. Logo, quando as condições vão mudando, a máquina vai perdendo a regulagem. No caso da altitude, como o ar é rarefeito, existe pouco oxigênio para mesma quantidade de gasolina ao nível do mar (por exemplo). Então a superalimentação de combustível faz com que o motor vá se afogando, até não ter mais força e então apagar. Para solucionar isso, para as motos carburadas, deve-se levar um giclê com orifício menor para diminuir a entrada de combustível para o motor. Porém, para fazer a troca, o carburador tem que ser desmontado e exige que a pessoa tenha um mínimo conhecimento de mecânica.
Mas a altitude não influencia apenas o funcionamento do motor. Ela também altera o funcionamento do corpo humano. Durante a subida, tive alguns momentos de sentir um calor inexplicável, como se minha pressão estivesse subindo de repente. Porém, após alguns instantes, estabilizava e voltava ao normal. Quando chegamos ao topo, realmente não senti mais problemas. Apenas detectei que se desse 10 passos correndo, ficava muito ofegante e que o pensamento parecia estar lento. De repente as palavras se perdiam, o que ia se dizer esquecia e etc. Como faltava oxigênio no cérebro (nos níveis de costume) acho que eu parecia ter me tornado burro! Conta de cabeça eu nem tentei para não ficar frustrado. O Thiago começou a sentir enjôo e queria ir embora rápido, pois estava passando mal.
Batemos várias fotos, fizemos o vídeo para a posteridade, e descemos, por outra estrada, em direção ao lado chileno. Por ter passado pelo Cristo, evitamos passar pelo Túnel Internacional Cristo Redentor, de 3 km de extensão, que divide a estrada em lado argentino e lado chileno. Evitamos também pagar o pedágio no túnel. Após alguns quilômetros chegamos na aduana chilena.
A fila era bem grande. Marcamos nosso lugar e fomos adiantar a documentação, cambiar o dinheiro e fazer um lanche. Encontramos vários brasileiros de moto também na fila. O pessoal estava indo para um encontro em Vina Del Mar, ao lado de Valparaíso, 100 km de Santiago. Conhecemos um brasileiro que é do Acre e que nos incentivou a ir até lá. Afirmou que as estradas no Acre estavam muito bem conservadas. Realmente ficamos encorajados.
Voltamos para a fila e ao chegar na nossa vez, passamos pelas 5 etapas para se entrar no Chile. Primeiro você passa no guichê argentino e registra a sua saída do país. Depois tem que se pagar um pedágio. Em seguida passa em um guichê para apresentar o documento da moto e o passaporte. Então você vai para um outro estágio, que sua bagagem é revistada, inclusive com cães farejadores. Então, você entrega uma declaração assinada que não está portando nenhum produto ou substância proibida no Chile. Para se ter uma idéia, não é permitido entrar com nenhum alimento e nem com equipamentos de filmagem profissionais ou novos. Tudo tem que ser declarado. Por fim, na última etapa, o sujeito confere os documentos e registra a sua entrada. Depois de tudo, realmente você está no Chile.
Quando ainda estava na etapa dos cães farejadores, o Thiago viu o treinador do cachorro colocar algo em minha bagagem. Eu não percebi mas me deu um nó na cabeça quando vi que o cachorro não parava de pular na minha moto. Comecei a pensar no que poderia ser. Não sei o porque disso mas a verdade é que o cachorro achou um pedaço de salsicha embaixo da minha sacola presa ao banco e o treinador afirmou que era para manter o cachorro sempre ativo. Não achei muita graça não, mas às vezes podem fazer isso para verificar a reação da pessoa. O certo é que nada aconteceu e seguimos viagem.
Poucos metros depois começamos a descer em zig-zag. Quando percebemos, estávamos nos famosos Caracoles. O lado chileno é só deserto. Quanto mais descíamos, mais quente ficava. Descemos até Los Andes e depois pegamos uma autopista até Santiago.
Devido a alguns desvios na cidade por causa de obras, custamos mas achamos o hostel Che Lagarto de Santiago. Nos hospedamos, tomamos um banho e nos preparamos para sair para comer. No hostel conhecemos mais pessoas: o Andréas, alemão que também estava no mesmo quarto que estávamos; a Vanessa, carioca que estava em um congresso de Direito Internacional, a Alessandra, paulista de Ribeirão Preto, o Felipe, argentino de Tucuman, o Hércules, capixaba que mora em Gov. Valadares, e mais uma galera de gente. Nesse dia, eu, o Thiago e o Andréas fomos lanchar no Burger King. Conversávamos em espanhol e inglês. Enquanto eu e o Andréas fomos dormir, o Thiago resolveu sair a noite e diz ter ficado com uma chilena.
No dia seguinte fomos procurar por alguma autorizada Yamaha para comprar a pastilha de freio. Pela internet localizamos as possíveis lojas. Pegamos o mapa e fomos caminhando até o local. Após comprar as pastilhas, voltamos para o hostel. Pegamos as motos e fomos a uma mecânica para fazer a instalação da pastilha. Foi tranqüilo. Aproveitamos e fomos almoçar uma pizza logo em seguida.
Na Pizzaria, pudemos assistir ao Chaves em espanhol. No entanto, lá se chama Chavo. O episódio que estava passando eu já tinha visto. No entanto, não estava dando para compreender a fala dos personagens. Confesso que achei graça do mesmo jeito ao observar os chilenos rindo das cenas. Fiquei impressionado também com semelhança do timbre de voz do “Chaves Brasileiro” com o “Chavo Espanhol”. Arrumaram uma dublagem muito boa para a voz do ator.
Após o almoço fomos procurar um lava-jato para dar uma limpeza nas motos. Achamos uma lavadora automática com ficha. Compramos uma ficha e que deu para lavar as duas motos. Abastecemos as motos e voltamos para o hostel. Nesse dia, foi feito um churrasco no hostel mas não participamos. O Thiago não come carne vermelha. Sendo assim, à noite fomos ao Mc Donalds com a turma do hostel. Estava muito descontraído e foi excelente para conhecer mais a turma. Para o trecho seguinte, estávamos em dúvida se íamos a Vina Del Mar ou se andávamos mais até La Serena. Decidimos ir para La Serena pois seria um trajeto maior. Naquele dia ainda pensávamos em ir ao Peru apesar dos riscos de não conseguir entrar devido não ter a autorização do Consulado do Peru no tal documento.
Andamos aproximadamente 450 km até La Serena. Como saímos tarde de Santiago, chegamos na cidade no final do dia. Encontramos uma pousada e nos hospedamos. Após tomar um banho fomos jantar. Porém nesse dia não tive uma digestão e precisei de tomar um chá de boldo para ver se melhorava. Acabou dando certo.
Em La Serena, decidimos não avançar até o Peru visto que a distância seria muito grande e com o tempo que tínhamos iria ficar um pouco corrido. Além disso, estavam tendo muitas chuvas no Peru. Então resolvemos deixar de lado e decidimos ir em direção de San Pedro de Atacama e regressar ao Brasil pela Argentina. A viagem para o Peru ficou para uma outra ocasião.
No dia seguinte viajamos até o município de Caldeira, pouco depois de Copiapó. Foram aproximadamente 450 km. Desde Santiago, em toda trajetória tínhamos retas infindáveis e a paisagem era desértica Após La Serena, já no Deserto de Atacama, realmente não havia muita coisa. Postos de gasolina de 200 a 200 km. Chegamos em Caldera no início da noite. Nos hospedamos em um hotel na beira-mar. A cidade, no meio do deserto, tinha poucas opções de lazer. Saímos e jantamos em um pequeno restaurante ao lado do hotel, visitamos um museu e depois fomos para a praça da cidade onde estavam ocorrendo atividades culturais. Inesperadamente começou a chover no deserto. Algumas gotas de água desceram durante alguns minutos. Ao invés do povo sair correndo por abrigo, começaram a comemorar. Inacreditável! A alegria durou pouco mas a festa continuou. Andando pelas barraquinhas de artesanato, descobrimos que o que estava “bombando” entre as crianças era o famoso totó. Filas e filas em diversas mesas de totó agitavam o local. Inclusive mesas com néon e etc. Muito interessante.
No dia seguinte fomos até a Bahia Inglesa, que é uma praia a 7 km de Caldera. A praia em si é bonita. Porém é impossível nadar devido às medusas gigantes e à água gelada. A areia da praia não é fina como as nossas. Parecem mais flocos de Neston rígidos. No local, existem placas alertando para o perigo de Tsunami na região.E o mais interessante é que a praia acaba e o deserto começa, sendo que não existe nenhuma vegetação natural no local. Sinceramente, sai de lá mais apaixonado com as praias brasileiras do que quando fui. Resolvemos seguir a viagem. Logo na hora do almoço, saímos em direção a Antofagasta.
Durante o trajeto, passamos na famosa “Mão do Deserto” e registramos fotos. Ao chegar em Antofagasta, primeiro fomos comer no Mc Donalds. Um dos abastecimentos do percurso não aceitava cartão e acabamos ficando sem Pesos Chilenos. Tínhamos apenas dólares. Encontrar algum lugar para comer e poder pagar com cartão de crédito era essencial. O Mc Donalds nos atendeu mais uma vez muito bem. Alimentados, fomos procurar por hospedagem. Fomos em vários lugares e acabamos nos hospedando no Hotel Brasil.
No dia seguinte, saímos para trocar dólares e comer. Fomos para a praia e pela primeira vez, nadamos no oceano pacífico. A água em Antofagasta é mais quente do que para o sul e além disso, fizeram uma bahia artificial que protege a praia das medusas. A praia estava cheia e aproveitamos um trampolim para saltar no mar e nos divertir. Mais tarde fomos ao shopping da cidade e regressamos a noite apenas para dormir.
No dia seguinte, saímos em direção à São Pedro de Atacama, passando pela cidade de Calama. Na estrada tivemos um problema com os Carabineiros do Chile. Imagine a situação. A estrada era plana e a reta era muito grande. De repente uma placa solicitava a redução de velocidade para 50 km/h. Uma leve curva à direita surgiu e ultrapassei um veículo que estava à minha frente, na velocidade de uma tartaruga. Quando alinhei novamente, havia uma placa indicando “Pare. Cruzamento com ferrovia”. Reduzi a velocidade, observei que não vinha nem um trem e passei, acenando para dois carabineiros que estavam em sua patrulha logo na placa.
Assim que passei, um deles apitou e ordenou que eu parasse. Olhei no retrovisor e verifiquei que o Thiago também foi parado. Mesmo uns 30 metros a frente, desliguei a moto, desci e tirei meu capacete, caminhando em direção ao patrulheiro. Quando cheguei perto dele, ele me solicitou os documentos e pediu que eu o acompanhasse. Pensei comigo: tomei multa por ter passado na contínua, em curva e acima da velocidade do local. Quando chegamos na placa, o policial me perguntou se eu “hablava español”. Respondi que sabia um pouco. Então ele pediu que eu lesse o que estava escrito na placa. Quando olhei, estava escrito de todo tamanho PARE. Ele me fez repetir o que estava escrito. Olhei para a estrada e vi todos os carros parando: carretas carregadas, caminhões e carros. Todos paravam. Fui pedir perdão, e quase tomei outra: “– No Chile no hay perdon! Perdon apenas na corte!!!”. Na hora pensei que a viagem ia agarrar. Tomei outra: “– No Chile, PARE é PARE! No és como en Bresil!”. O camarada ainda me fez repetir mais duas vezes o PARE e depois nos liberou. Pergunta se depois deixamos de parar em alguma placa. Paramos em todas. Continuamos a viagem após ter tomado a lição.
Alguns quilômetros adiante, após ter cruzado a linha do Trópico de Capricórnio, já na zona tropical, paramos em um posto de gasolina. Encontramos dois gaúchos que retornavam de Matchu Pitchu. Os dois estavão em uma Yamaha XT600E e uma Honda Falcon. Eles estavam descendo para ir até a Mão do Deserto visto que se quisessem já podiam ter pegado pela Argentina descendo em direção ao Rio Grande do Sul. Aproveitei para alertá-los sobre a placa de Pare.
Chegamos em San Pedro de Atacama, que fica próximo da fronteira com a Bolívia e já mais perto da fronteira com a Argentina. Nas montanhas ao redor da cidade a temperatura é mais baixa. Porém, na cidade, durante o dia, é um pouco quente. Porém, à noite, a temperatura cai. De dentro da cidade é possível ver montanhas com neve ao fundo. Um vulcão inativo que possui neve no seu topo, se destaca na paisagem. Nos hospedamos em um hostel e conhecemos diversas pessoas. Chilenos, suecos, alemães, brasileiros. Fomos ao mercado de artesanato, conhecemos a cidade e mais tarde saímos para jantar em um restaurante ao lado do hostel. Fizemos amizade com o cozinheiro que acabou por nos receber super bem. No dia seguinte fomos lá novamente.
Levantamos e fomos conhecer o Parque Nacional Vale dela Luna. Fomos de moto até a entrada do parque. Depois deixamos a moto estacionada e fomos caminhar entre os cânions, grutas e dunas do local. Conhecemos durante a aventura um chileno, chamado Andy, que acabou nos salvando. Fomos totalmente despreparados para o passeio e se não fosse a lanterna que o Andy tinha, não daria para ter entrado nas grutas. Mas no final deu tudo certo.
Retornamos para a cidade e fomos procurar um lugar para almoçar. No restaurante que estávamos, fizemos amizade com dois brasileiros, pai e filho, que também estavam viajando. Conversamos bastante e depois do almoço fomos até o hostel para mostrá-los as motos. Batemos fotos e trocamos e-mails. Mais tarde, fomos ao Vale dela Muerte, de moto, para conhecer o local e ver o pessoal descendo as dunas de sandboard. Par chegar no local, era necessário passar por uma estrada de terra que hora se tornava areia. O Thiago, meio ressabiado de cair novamente, começou a neurar com a minha pilotagem. Afirmou que eu estava andando rápido e disse que era para eu fazer aquilo apenas quando estivesse sozinho. Acho que ninguém se sente seguro por completo na garupa. Pediu para sair e ir a pé. Mais leve ficou mais fácil e emocionante. Não se compara ao Rali Dakar, mas acelerar a moto no areião tem sua dose de adrenalina. Na areia, a tendência da moto é atolar a dianteira. O grande segredo é acelerar a moto, aliviar a dianteira e deixar a moto “dançar”, ficando mais em pé e deixando o corpo mais para trás. Outra técnica que é usada é esvaziar um pouco o pneu para que ele não afunde tanto na areia.
Quando chegamos na principal duna, subimos até o topo e ficamos observando o pessoal descendo a duna de sandboard. No local, o Thiago arrumou uma prancha emprestada de um nativo que estava lá praticando o esporte. Em sua única chance de descer, o garotinho fez bonito. Desceu até o final sem cair. Duas inglesas que estavam no local aprendendo, ficaram entusiasmadas e não acreditavam que era a primeira vez dele.
Voltamos para o hostel e após termos jantado, as chilenas que estavam por lá fizeram uma festa no quintal do hostel. Puseram em uma caixinha de som umas músicas “para bailar”, e começaram a dançar salsa sem parar. Rapidamente o Thiago entrou na onda e começou a dançar também. Resultado: ele ficou com uma das chilenas depois de horas dançando.
No dia seguinte, fomos embora sentido Argentina. Na Aduana Chilena, fizemos o procedimento de saída. Encontramos outro motociclista, paulista, que estava viajando com sua esposa de Yamaha XT600E. A medida que subíamos a montanha e afastávamos de San Pedro de Atacama, a temperatura caía e os primeiros sinais de vegetação apareciam. Estávamos preparados para o frio. No alto da montanha, na fronteira, pegamos aproximadamente uns 15ºC com um vento muito forte. O paso de Jama está a 4.900 m de altitude. No alto das montanhas, existem lagos maravilhosos e salinas gigantes. É uma paisagem muito bonita. Quando chegamos na Argentina, a paisagem era outra: vegetação em todas as partes, pássaros, insetos e bichos. A Cordilheira voltava a ter vida. Nesse dia, devido à altitude, senti um pouco de dor de cabeça.
Na aduana Argentina, no paso de Jama, fizemos os procedimentos de entrada no país. Aproveitamos para fazer um lanche em uma vendinha que tinha ao lado. Conforme falei anteriormente, a altitude causa situações inexplicáveis. Bebendo um suco e comendo biscoito, senti minha mão muito fria, mas não congelada. Veio um vento forte e que jogou o pacote de biscoitos longe. Na hora, tive a impressão de que meu copo também havia voado junto. Comecei a procura-lo no chão e não achava. O Thiago disparou a rir e gritar que não acreditava. Depois dele ter feito isso umas três vezes que fui desconfiar que ele estava rindo era de mim e que o copo que eu estava procurando estava na minha mão. Pensa nisso! Na altitude você fica lerdo e burro!!! Morri de rir de mim mesmo com o episódio.
Continuamos e fomos descendo. Paramos próximos de uma salina gigantesca para bater fotos. Observando o horizonte, podia se perceber que uma nuvem estava transbordando a montanha, assim como um vapor salta a borda de uma panela. Achei interessante porque a nuvem que estávamos vendo ainda estava abaixo do nível que nos encontrávamos. Podíamos observar as nuvens por cima delas. Quando atingimos a tal montanha, começamos a descer em uma estrada muito sinuosa pela serra. Naquele ponto, tudo estava nublado e as nuvens as quais nos referíamos cada vez estavam mais altas, no lugar normal de uma nuvem, ou seja, no alto.
Fomos até a cidade de San Salvador de Jujuy. Nos hospedamos em um hostel e conhecemos mais um monte de gente: alemães, argentinos, suíços e americanos. Saímos para jantar e mais tarde retornamos ao hostel. Nesse dia estava tendo um jogo do Boca Juniors contra o River Plate na TV. Todos estavam assistindo na maior empolgação. Os argentinos, assim como os brasileiros, vibram com o futebol.
No dia seguinte, durante o café da manhã, conhecemos alguns argentinos e que nos chamaram para ir com eles conhecer a cidade. Fomos caminhando pela rua até um estádio da cidade. Depois fomos almoçar empanadas. Aproveitamos o almoço para conversar fiado. Fomos comentar que uma pessoa realmente consegue falar um língua quando ela consegue realmente se expressar para por exemplo, contar uma piada. O Thiago pegou a piada nível 0, do pré-primário e foi contar: “Conhece a piada do não nem eu?”. Ninguém entendeu nada. Ficamos mais de meia hora tentando traduzir essa piada ridícula. Depois de muito esforço chegamos na conclusão: “Conoces el chiste de No Yo Tampoco?”. Pensem nisso: a galera morreu de rir. Essa piada não rola na Argentina. Aí começamos a entusiasmar: contamos uma piada pesada e suja, aquela do Elefante caindo na lama; aquela dos dois cachorrinhos, o Grapete e o Repete. O Grapete morreu e aí você sabe qual que ficou?
Uma hora tinha que dar errado. Nosso espanhol tinha que falhar. De repente o povo ficou sério e começaram a falar que ali era um ambiente família e que devíamos ir para uma praça para poder conversar livremente. O “Repete” é um palavrão! Só não te conto o que significa, mas são coisas que você facilmente encontraria em uma torcida de campo de futebol. O certo seria falar “Repita”. Morremos de rir da situação.
No final da tarde fomos à rodoviária buscar três amigas dos nossos novos colegas. Fomos todos para o hostel e acabamos fazendo novas amizades. Naquele dia, o pessoal do hostel organizou um churrasco a noite. A festa foi no quintal. O Thiago aproveitou para fazer download no computador do hostel de algumas músicas brasileiras: sambinha, forró e etc. Depois de pouco tempo ele estava lá dando praticamente aulas de samba, forró e até capoeira. Foi super legal. Depois os argentinos começaram a nos ensinar como dançar Rumbia. Foi super divertido. Nesse dia o Thiago ficou com uma de nossas novas amigas, a Karina, que inclusive deu para o Thiago um calção do Boca Juniors como lembrança.
No dia seguinte seguimos viagem, sentido Corrientes. Teoricamente, passar por dentro do Paraguai seria mais perto para chegar em Foz do Iguaçu. Porém, teríamos que passar duas vezes pela aduana. Sendo assim, resolvemos seguir pela Argentina até Foz. Corrientes fica na margem do Rio Paraguai, bem próximo da fronteira com o Paraguai. Era uma empreitada forte para aquele dia. 1.000 km para serem percorridos exigiam uma certa determinação. Acho que devido ter ficado até tarde e na friagem, nesse dia fiquei muito gripado. Mas mesmo assim a meta estava mantida.
A cada posto que parávamos, perguntávamos sobre o próximo abastecimento. Em um deles, o frentista nos informou que tínhamos um a 130 km e outro a 180 km. Para dar ritmo, resolvemos andar até o de 180 km, sem economizar combustível, andando à 140 km/h. No entanto, quando chegamos no posto, tivemos a surpresa do mesmo não ter mais gasolina para vender. Que situação! Para frente, o próximo abastecimento estaria a 80 km. Para trás, teríamos que voltar 50 km, na manha, visto que a gasolina que tínhamos seria a conta. Então voltamos 50 km andando a 90 km/h. Foi dureza!
Abastecemos e bola para a frente. Quando fomos aproximando do outro posto, onde não havia gasolina, tivemos o nosso primeiro susto de verdade na estrada. Havia uma barreira com cacos de vidro, pedras e madeiras bloqueando a pista. Reduzimos a velocidade, engatamos marcha forte e ficamos ligados esperando que alguma coisa muito tosca acontecesse. Olhava para um lado e para o outro, observando as moitas do mato para ver se alguém iria surgir armado para nos assaltar e como iríamos fugir. A verdade é que em alguns segundos, um monte de coisas passa pela sua cabeça.
Felizmente, nada aconteceu. Passamos por fora da pista para não estragar o pneu e seguimos adiante. Avisávamos todos os veículos que vinham no sentido contrário. Alguns quilômetros depois avisamos um policial que estava aguardando um ônibus no ponto. Expliquei para ele o que ocorreu e ele imediatamente pegou seu telefone celular e avisou alguém. Acredito eu que alguém com certeza foi assaltado naquele lugar. O problema ficou para trás e seguimos andando. Pegamos um trecho de 30 km com buracos na Ruta 16 e que somando com os outros atrasos, acabamos tendo que dirigir à noite. Nesse dia rodamos 1.100 km. Foi puxado! Mas como tudo que está ruim ainda pode piorar, custamos para conseguir um lugar para dormir na cidade de Corrientes. Pelo stress da situação, eu e o Thiago nos desentendemos ao tentar uma hospedagem que o dono, com uma cara feia de quem foi acordado no meio do sono, não permitiu que nos hospedássemos sem pagamento adiantado. Nesse dia, eu precisava cambiar dólares novamente ou pagar com cartão de crédito. Como o Thiago veio resmungar que ele tinha avisado que não queria ficar ali, fiquei uma fera, pois nessas horas, todos tem que assumir as decisões juntos, e quando um começa jogar a culpa dos problemas encontrados para cima do outro, as coisas tendem a ficar complicadas. Por fim ficamos em um hotel que para piorar esqueceu de nos chamar na hora solicitada e acabamos levantando tarde para continuar a viagem.
Cambiamos o dinheiro, pagamos o hotel e continuamos sentido Foz do Iguaçu. A região que estávamos passando era muito quente. Foi um tanto quando desgastante. Pouco antes de chegar na fronteira, fomos parados em uma blitz do exército argentino. Principalmente solicitaram para ver o Seguro Carta Verde. Como diz o Thiago, “ – O seguro Carta Verde explicou porque veio!”. Se regressássemos ao Brasil sem ter mostrado o documento em lugar algum, ficaríamos frustrados com um custo desnecessário. Mas realmente, próximo da fronteira Argentina, o seguro é realmente exigido dos veículos estrangeiros. Chegamos na fronteira no início da noite.
Em fim no Brasil novamente. Com meu celular funcionando, liguei para casa avisando que estávamos em solo brasileiro, liguei para minha namorada para dar os parabéns pelo seu aniversário e liguei para minha prima, a Andréia, que estávamos em Foz. A Andréia e seu marido, o Ramon, moram em Foz do Iguaçu. Ficamos hospedados na casa deles. Então encontramos em frente um shopping e seguimos o carro deles até chegar em casa.
A sensação de estar em um lugar onde todos falam a sua língua é muito boa. Ainda mais estar na casa de um familiar, que rapidamente nos faz sentir mais em casa ainda. Aproveitamos o calor para dar um pulo na piscina. Depois fizemos um lanche e fomos dormir. Ficou acertado que iríamos para o Paraguai no dia seguinte, para conhecer a famosa Cidade do Leste. O Thiago, desorientado com a idéia de comprar produtos baratos, ao invés de deitar, ficou fazendo a contabilidade da viagem até umas duas e meia da madrugada.
No dia seguinte, a Andréia nos emprestou o computador para fazer as contas finais do levantamento feito pelo Thiago. Criei uma planilha no Excel e fiz as conversões de moeda para saber o custo em reais da nossa viagem até aquele momento. Ficamos felizes que estava tudo dentro da previsão. Tomamos o café da manhã e seguimos rumo ao Paraguai.
A dinâmica da muamba na Cidade do Leste é uma coisa impressionante. Primeiro, nós paramos o carro em um estacionamento bem próximo da Ponte da Amizade. Então nos dirigimos até a avenida principal que leva até a ponte. Vários mototáxis ficam a espera encostados disputando a gritos os clientes que vão chegando. Cada um de nós três, eu, o Thiago e o Ramon, subimos em uma moto e fomos embora. Mal deu tempo de botar o capacete e sentar na moto, o camarada já estava arrancando.
A moto, parecia nem ter suspensão. Balançava que era uma beleza. De repente, atravessando a aduana brasileira, ainda antes da ponte, as motos eram obrigadas a passar por um corredor estreito ao lado de um muro chapiscado. Que aflição! Só de pensar que se o cara desequilibrasse, seu joelho iria apenas dar uma ralada no paredão. Mas isso é somente o começo. Quando as motos entram na ponte, a lei é do oportunismo. Como a pista para volta ao Brasil sempre fica congestionada de carros e ônibus, as motos invadem a contra-mão e o trânsito fica sem lei. Vai um desviando do outro, fazendo praticamente um malabarismo. Adrenalina total na travessia da ponte. Quando chegamos na aduana paraguaia, no final da ponte, eles nem olham nada e você já entra na Cidade do Leste. Alguns metros depois o mototáxi pára e você paga R$ 3,00 pelo serviço. O bom é que é muito rápido. Falar em riscos é bobagem.
Nos reencontramos após a travessia. O comércio da Cidade do Leste já começa logo após à ponte. Lojas de tudo quanto é tipo vendem mercadorias de qualidade com preços muito baixos. A questão chave é que no Paraguai o imposto é muito baixo. Então os produtos ficam sendo vendidos a um preço real, isentos de uma tributação excessiva como a nossa no Brasil. Percorremos diversas lojas sem comprar nada. No entanto, cada vez mais empolgados com o Paraguai. Outra coisa que achei interessante na Cidade do Leste é que o povo sabe falar o guarani, o espanhol, o português e alguns o inglês. Do jeito que você começar a conversa eles já vão acompanhando. No final da tarde, quando as lojas estavam fechando, fomos embora. Pegamos, cada um um, o mototáxi. Como diz o Thiago, a emoção é maior que uma largada de motocross. Sem contar na quantidade de motos, e uma corrida maluca! Quando fomos chegando do lado brasileiro da ponte, aquele mundo de motos tinha que entrar em um funil onde somente era possível passar apenas um por um. Uma loucura! No tumulto, as vezes um bate no outro e ninguém pára. Eles não estão nem aí. Segundo relatos, de vez em quando um abraça com outro e cai. Ainda bem que nada nos aconteceu. Voltamos para o estacionamento, fomos para casa e já planejávamos o dia seguinte.
Quem fala que vai ao Paraguai e não vai gastar nada está falando bobagem. É impossível! O Paraguai desperta necessidades que você nem se atentava. Principalmente quando você começa a ver que os preços são a metade dos preços em nossa cidade. Em alguns casos, chega a ser bem menos.
No dia seguinte, fomos de novo ao Paraguai. Porém compramos várias coisas, perfumes, eletrônicos, equipamentos de informática, etc. Claro que sabíamos que tinha que entrar na mala. Então não era possível exagerar. Nesse dia voltamos para casa na hora do almoço, pois tínhamos combinado com a Andréia de durante a tarde ir conhecer as Cataratas do Iguaçu.
Depois de almoçar fomos para as Cataratas. Foi um passeio muito bonito. O tamanho das quedas e a quantidade de água do rio são impressionantes. Ficamos algum tempo no Parque Nacional Cataratas do Iguaçu. Depois voltamos para casa e mais a noite, rolou um churrasquinho. Dois amigos da Andréia e do Ramon, o Vidal e a Ida, que são paraguaios, foram para lá com um filho, o Marti, e com a babá. O Marti acabou nadando conosco na piscina, sem medo de ser feliz. Foi uma noite bem descontraída e agradável. O Ramon ligou os equipamentos dele de som e luz e fez do churrasco uma verdadeira boate com direito a globo giratório e lâmpada estroboscópica. Conversa vai conversa vem, descobrimos que algumas coisas ainda tínhamos esquecido de comprar no Paraguai. Então no dia seguinte voltamos à Cidade do Leste.
Nesse dia, depois de atravessar a ponte, nos desencontramos do Ramon. Primeiro, marquei na esquina enquanto o Thiago saiu para dar uma volta atrás dele. Ele voltou e nada. Então ele ficou e eu fui tentar achá-lo. Nada! Comecei a ficar preocupado de ter havido algum acidente, ou que tivessem seqüestrado o mesmo para rouba-lo. Tudo passa pela cabeça. No entanto, a percepção do Thiago era outra. Considerando que o Ramon é um apreciador de lutas de Vale Tudo, a hipótese levantada era que o mototáxi devia ter passado o joelho dele no muro chapiscado, e naquele momento, ele estava passando o nariz do motoboy no chão.
No final das contas, ficamos em frente à loja Monalisa e depois de meia hora, todos se encontraram novamente. Um achou que o outro estava demorando e saiu para procurar, fazendo com que ocorresse o desencontro. Compramos o que estava faltando e retornamos para Foz do Iguaçu. Passamos no escritório do Ramon para verificar um problema no seu computador e voltamos para casa. Havíamos combinado de ir até a hidrelétrica de Itaipu para conhecer a Iluminação Monumental da barragem. Um taxista nos levou até lá.
Fomos para lá no maior entusiasmo. Todas as sextas-feiras eles apresentam a Iluminação Monumental de Itaipu. Ouvimos dizer que faziam abertura de comportas também para aumentar o espetáculo. Quando chegamos lá, estávamos realmente empolgados. Mais de dez ônibus de viagem, levavam os turistas da portaria até um anfiteatro que se localizava de frente para a barragem. O povo começou a fazer contagem regressiva para o início do espetáculo. Então duas moças do cerimonial iniciaram a apresentação, falando tudo em dois idiomas: português e inglês. Assistimos a um vídeo institucional e depois ao som de uma música de suspense, vimos as luzes se acenderem lentamente, no tempo de um refletor se esquentar. Terrível! A expectativa gerada se resume ao um acender de refletores. Nada se move, nada pisca e nada muda. Nem uma aguinha mais forte jorrando existia, visto que o vertedouro principal da hidrelétrica não podia ser visto do ponto onde estávamos. Fiquei decepcionado com a simplicidade do negócio que é veiculado como um show de iluminação.
Voltamos de Itaipu rindo da nossa decepção. Com diz o Thiago, é o famoso atrativo turístico “pega bobo”. Com certeza quem foi não volta. Te garanto que não precisa. Da usina, passamos em casa e fomos para um barzinho chamado Capitão. Lá encontramos o Vidal e a Ida. Rimos e jogamos conversa fora. Até extrapolamos um pouco visto que voltamos para casa tarde e no dia seguinte íamos andar 1.000 km até São Paulo.
Levantamos e fomos embora. Era sábado e precisávamos chegar em Belo Horizonte no domingo dia 28/01/2007. Na segunda, o Thiago tinha que retornar ao trabalho. Passamos nesse dia pela cidade de Guarapuava, no interior do Paraná, onde meu primo Fabrício está temporariamente morando. Como havia ligado para ele no dia anterior e ele estava em Belo Horizonte, passamos direto. Em um dos postos que abastecemos, ainda no Paraná, um frentista nos alertou para radares estrategicamente colocados para pegar o povo e extorqui dinheiro. Quem avisa amigo é. Vínhamos em uma curva e tinha um veículo lento. Como era uma ponte, a faixa era contínua. Porém era possível ver toda a reta após a curva e então não hesitei em fazer a ultrapassagem. Quando vi, tinha um policial rodoviário já me pedindo para encostar com um radar na mão. Pediu para que eu apresentasse meus documentos e já me perguntou se eu tinha visto o que tinha feito. Sem esquivar, já afirmei que vi que tinha passado na contínua e que isso era uma falta grave. Ele já pegou e falou qual era o preço da multa. Lembro que tratava-se da ponte “Cinco Réis”. Mas a multa era quase uns R$ 200,00. O Thiago, que estava atrás, fez a mesma manobra e enquanto um patrulheiro falava comigo, o outro falava com o Thiago. Ele me convidou para ir até atrás da viatura para fazer a multa. Nessa hora, eu já estava consentindo que ia ter que gastar mais um dinheirinho. Afirmei que o veículo a minha frente estava lento e o policial comentou que realmente o radar não detectou infração. Mas como se diz: nada é desculpa. Acredito que se estou errado devo pagar pelo erro e ponto final.
Quando menos esperava, o policial perguntou se eu queria uma ajuda condicionando que ajudássemos a eles também. Pensei comigo: “Cantou a pedra!” Na cara de pau, ele começou a pedir propina. Eu disse na hora que preferia que fosse feita a multa pois errado era errado. Eles começaram a especular quanto que a moto dava com um tanque, quanto cabia de gasolina no tanque e quantos quilômetros poderíamos andar com o valor da multa. Fui irredutível e então eles começaram a ir para cima do Thiago. O Thiago falou que tinha disposição para ajudar, mas não tinha jeito que ele estava comigo e eu era o caixa. Para encerrar o assunto, falei com eles que podiam lavrar a multa porque estávamos pagando tudo no cartão de crédito, já tínhamos rodado mais de 9.000 km sem problemas e que quando a multa chegasse, pagaríamos no banco. E que a única coisa que podíamos fazer era dar um chaveirinho que compramos no Chile para dar de lembrança. Mais uma vez o policial hesitou em preencher a multa. Por fim resolveram nos liberar mas quando estávamos saindo, um deles cobrou o chaveiro. Então abrimos a mala e demos um chaveirinho para cada um. Sinceramente, não achei um bom desfecho, pois essa é a corrupção que mata nossa sociedade. Seguimos nossa viagem, pois faltava ainda um bom chão até São Paulo. Chegamos em São Paulo depois das 11 horas da noite. Chegamos pela Rodovia Castelo Branco e facilmente conseguimos chegar na casa da minha Tia Marina que estava a nos esperar pela segunda vez, porém regressando para casa. Contamos algumas das histórias da viagem e fomos dormir.
De manhã acordamos e preparamos para o último trecho da viagem. São Paulo até Belo Horizonte. Pegamos muita chuva durante o trajeto, principalmente no sul de Minas Gerais. Debaixo dos temporais, reduzíamos a velocidade, mas continuávamos andando. Chegamos em Belo Horizonte no final da tarde. Para encerrar a viagem, fomos até o alto da Serra do Curral, cartão postal de Belo Horizonte, na Praça do Papa para registrar o final da viagem em nossa terra natal. Era dia 28/01/2007 e depois de 10.150 km rodados em 30 dias, estávamos de volta em casa. Não sabemos quando será a próxima aventura mas temos certeza que elas virão. Como diz o meu “brother” Thiago Abreu, “Quer viver ou quer durar?”

Belo Horizonte, 19 de fevereiro de 2007,

Braulio Alves Silva Lara

 Agradecimentos especiais:
Quero agradecer a Deus pela oportunidade e pela força durante todos os momentos dessa aventura. Quero agradecer meus pais, Xico Lara e Heloísa, por terem o tempo todo nos esperado de braços abertos, torcendo para o sucesso da viagem. Quero agradecer minhas irmãs, Fernanda e Gabriela, pelo apoio e carinho, a minha namorada Viviane, que durante todo o tempo esteve em meus pensamentos, meus avós, tios, primos, sogro e sogra, cunhados, amigos... enfim todo mundo.

“A distância real entre dois lugares sempre depende de como se enxerga o mapa”
(Braulio Lara)