quinta-feira, 30 de abril de 2020

O dilema da quarentena - Artigo Jornal - ABR/2020


O dilema da quarentena

Em várias entrevistas das autoridades de saúde, durante a pandemia, foi usada a seguinte frase: “uma quarentena bem sucedida pode parecer não ter sido necessária”. O objetivo principal de se fazer a quarentena é bloquear ou dificultar a propagação do vírus. No entanto, o bloqueio das atividades traz, também, o problema econômico. Sendo assim, não tem como evitar a discussão sobre o que fazer para dosar as medidas.

Belo Horizonte está há pouco mais de 40 dias com seu comércio fechado e permitindo apenas o funcionamento de atividades essenciais. A medida foi muito importante para passar pela primeira fase da pandemia. Foi necessário esse tempo para entender melhor o vírus, colecionar dados para fundamentar análises e equipar a estrutura do sistema de saúde. Nesse período, coletamos bons resultados: baixo índice de mortes (17 óbitos registrados até o dia da publicação), hospitais preparados e com capacidade disponível e engajamento da população nas medidas de segurança e higiene.

A tendência é que conviveremos com o vírus por muito tempo. A curva de contaminação não vai parar de avançar até que grande parte da sociedade se torne imunizada, tendo recebido o vírus pelo menos uma vez. Ou seja, temos que avançar retardando ao máximo a propagação do vírus.

No entanto, o tempo está passando e é preciso enxergar uma direção para trabalhar a saída do isolamento. As pessoas estão perdendo suas fontes de renda. E quando a classe empresarial se manifesta em prol de flexibilização, não pode ser rotulada como insensível aos problemas de saúde. Tenho certeza que ninguém está pensando em ganhos, mas sim em sobrevivência. As empresas, principalmente as pequenas, são as maiores responsáveis por manter a renda de muitos trabalhadores.

As autoridades de saúde afirmam que não há segurança para se abrir o comércio agora, porém não apresentam quais seriam os indicadores de monitoramento, para se formar um cenário que subsidie a decisão da saída do bloqueio. Critérios técnicos são citados com frequência. Contudo, quais são os critérios? Esperar o noticiário parar de falar que em outros cantos do mundo morrem pessoas diariamente? Esperar declarações de prefeitos anunciando abertura de covas aterrorizando a população?

Já é hora de um debate franco e honesto para se estruturar o planejamento de retomada das atividades. O resultado positivo, obtido até aqui, envolveu sacrifício de todos e pode muito bem ser mantido se cada um fizer sua parte. Ninguém quer um colapso no sistema de saúde e muito menos a perda de vidas. Mas a inércia pode destruir muitas famílias que não terão, em breve, de onde tirar o seu sustento. Precisamos que as autoridades confiem mais nas pessoas e permitam que voltem ao seu trabalho com cautela, responsabilidade e seguindo um protocolo de segurança a ser pactuado.

Braulio Lara
Empresário e Morador do Buritis – 39 anos; Professor do Curso de Engenharia Civil da UNI-BH; Mestre em Ciência da Computação pela UFMG; Pós Graduado em Gestão de Custos e Controladoria pela UNI-BH; Bacharel em Ciência da Computação pela UNI-BH; Técnico em Eletromecânica pelo CEFET-MG; Corretor de Imóveis registrado no CRECI (Diretor da SOLIMOB Netimóveis);
Artigo publicado no jornal Folha Buritis em 30/04/2020