A
chuva de 1000 anos e os estragos pelo caminho
As
chuvas que caíram em Belo Horizonte em janeiro de 2020 foram de assustar.
Devastação em diversos pontos da cidade. Pessoas morreram. O caos se instaurou
em algumas regiões e a população ficou muito assustada. Segundo o Prefeito,
trata-se de uma chuva que ocorre a cada 1000 anos!
Quando
ouvi a afirmativa, fiquei pensando. 1000 anos? O Brasil foi descoberto em 1500.
Belo Horizonte tem apenas 120 anos. 1000 anos seria relativo ao passado ou seria
sobre o futuro? Qualquer uma das duas percepções podem nos levar a mais uma vez
esquecer de fazer o que tem que ser feito.
A
água corre pelos vales e não pelo alto das montanhas. Nossa cidade, montanhosa,
tem diversos córregos que foram sendo canalizados para comportar o trânsito. As
decisões tomadas no passado, nos trazem ao presente. Não temos como alterar o
passado. Mas podemos e devemos planejar o futuro.
Belo
Horizonte precisa realmente de estabelecer políticas públicas sérias, que
estejam acima dos governos que passam. Precisamos resolver os pontos críticos
onde ocorrem enchentes. Garantir o funcionamento das bacias de contenção o que
não é o ideal, mas contribui para mitigar a impermeabilidade da cidade. Garantir
a não ocupação urbana das manchas de inundação próxima aos cursos d’água.
Redimensionar os gargalos pluviais e garantir a limpeza dos sistemas de bueiros
e bocas de lobo. Enfim, resolver os problemas de saneamento já existentes. No
escopo particular, as pessoas e empresas devem ser incentivadas a construir
caixas de drenagem com o intuito de retardar o lançamento de água na rede
pública em caso de grandes chuvas além de encaminhar parte dessa água
diretamente ao solo. E principalmente, manter as áreas verdes que já existem.
Existem
boas soluções. O problema é que no festival midiático, a racionalidade é
esquecida e as propostas mais mirabolantes surgem. E aqueles que gostam de se
projetar na polêmica, apontam o dedo para outros com o intuito de receber apoio
instantâneo para aquilo que no final das contas vai ficar do mesmo tamanho.
Agora
é hora de trabalhar e reconstruir o que foi destruído. Mas não podemos esquecer
que se realmente essa chuva é atípica, tudo que fosse feito talvez fosse
insuficiente. As lições ficam e não podem ser esquecidas. Mas quando vem a
estiagem, a memória vai sendo apagada. O jeitinho começa a ressurgir e quando
vai ver está o Poder Público fazendo obras subdimensionadas, desalinhadas com o
plano macro ou as vezes até mesmo ilegais. E quando a chuva atípica aparece
(1000 anos soa exagerado demais), ficam todos alarmados. Precisamos das obras
de engenharia e também de preservar o meio-ambiente. Mas que estejam alinhadas
com a política urbana de longo prazo. Ou quantas vezes vamos chorar em 1000
anos?
Braulio Lara
Empresário e Morador do
Buritis – 38 anos
Professor do Curso de
Engenharia Civil da UNI-BH
Mestre em Ciência da
Computação pela UFMG
Pós Graduado em Gestão de
Custos e Controladoria pela UNI-BH
Bacharel em Ciência da
Computação pela UNI-BH
Técnico em Eletromecânica pelo
CEFET-MG
Corretor de Imóveis registrado
no CRECI (Diretor da SOLIMOB Netimóveis)