Uma audiência pública realizada nesta segunda-feira (10), na Câmara Municipal de Belo Horizonte, para discutir soluções e tecnologias voltadas ao tratamento e à preservação das águas da Lagoa da Pampulha, revelou um verdadeiro escândalo ambiental. Dados apresentados por especialistas mostraram que o espelho d’água, símbolo da capital mineira e patrimônio cultural reconhecido pela Unesco, está contaminado por uma série de substâncias perigosas — incluindo metais pesados, pesticidas, lubrificantes e até um elemento químico que sequer existe naturalmente no Brasil.
O oceanógrafo Bruno Libardoni, diretor da empresa Infinito Mare, expôs os resultados de três meses de monitoramento realizado na lagoa por meio de quatro equipamentos conhecidos como caravelas, boias tecnológicas que analisam a presença de micro-organismos e compostos químicos na água. O levantamento trouxe dados alarmantes: foram detectados esteroides fecais, pesticidas, óleos lubrificantes e mais de 15 tipos de metais, como alumínio, titânio, zinco, cobalto, magnésio e lantânio.
Segundo Libardoni, muitos
desses metais estão muito acima do que é normalmente aceito pelas normas
nacionais e internacionais, mas o caso mais grave envolve justamente o
lantânio, um mineral pertencente ao grupo das chamadas “terras raras” e que não
é encontrado em território brasileiro. De acordo com as análises, a
concentração dessa substância na Lagoa da Pampulha é 3,85 milhões de vezes
superior aos índices considerados seguros por padrões internacionais, um número
que, segundo o especialista, “não encontra precedentes em nenhum outro corpo
hídrico estudado”.
O oceanógrafo explicou que o
lantânio vem sendo introduzido artificialmente na lagoa por meio de um produto
chamado Phoslock, utilizado há mais de uma década como parte de um contrato
firmado entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o consórcio Pampulha Viva, sem
processo licitatório. O produto, aplicado com a promessa de reduzir a presença
de fósforo e conter a proliferação de algas, contém lantânio em sua composição.
Com o uso crônico e sem monitoramento adequado, a substância estaria se
acumulando no fundo da lagoa, provocando assoreamento e possíveis riscos à fauna
e à saúde humana.
ESTOQUE
“Estamos estocando lantânio na
Pampulha, e isso é algo extremamente sério. Trata-se de um metal pesado que não
é natural do Brasil, aplicado de forma contínua e sem fiscalização adequada”,
afirmou o vereador Braulio Lara (Novo), um dos autores do requerimento da
audiência. “O Phoslock traz um metal que oferece riscos à saúde das pessoas e
está literalmente aterrando a lagoa”, completou o parlamentar, visivelmente
indignado com as revelações.
Além do lantânio, o estudo
mostrou que diversos outros metais estão em concentrações superiores aos
limites definidos pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), o que
reforça o cenário de contaminação. Especialistas alertaram que o uso prolongado
do Phoslock, aliado à ausência de controle técnico e transparência nos
contratos, pode ter transformado a Lagoa da Pampulha em um depósito tóxico de
difícil reversão.
A gravidade dos dados exige
novos estudos independentes sobre os impactos do lantânio no ecossistema local
e na saúde da população. Ministério Público e demais órgãos ambientais serão
chamados a acompanhar o caso.
Símbolo de Belo Horizonte e
Patrimônio Cultural da Humanidade, a Lagoa da Pampulha é uma das principais
referências turísticas da cidade. A descoberta de que o local abriga níveis tão
altos de contaminação química provoca uma profunda preocupação. “Estamos diante
de uma tragédia silenciosa”, resumiu Braulio Lara. “Por mais de dez anos, uma
substância rara e tóxica vem sendo depositada em um bem público tombado — e
quase ninguém sabia.”
NOVAS TECNOLOGIAS E SOLUÇÕES
A audiência também trouxe
muita informação por parte de empresas que possuem novas tecnologias para o
tratamento da lagoa. Todas foram unânimes em dizer que uma só forma não é
suficiente para trazer vida novamente à Lagoa da Pampulha. “Elas são
complementares. Não é apenas uma
solução que vai dar jeito na lagoa. Será a junção de diversas tecnologias é que
vai melhorar de vez a qualidade da água”, afirma Braulio Lara.
A audiência pública desta
segunda-feira apresentou diversas tecnologias e soluções para que a prefeitura
de BH realize estudos de viabilidade e novos caminhos possíveis para o
tratamento da água da lagoa da Pampulha.
Além de representantes da
Copasa, da PBH, do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), do Tribunal de Contas
de Minas Gerais, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da sociedade
civil, também participaram da audiência pública as empresas Chart Water, BioX
Microorganismos, Infinito Mare, Verus Ambiental e Hidrotractor.
ENCAMINHAMENTOS
O
vereador Braulio Lara sugeriu que a Copasa, juntamente com as prefeituras de BH
e Contagem avancem para uma contratação de novas tecnologias para que sejam
testadas no âmbito do tratamento da Lagoa da Pampulha. Segundo a Copasa, é
possível, sim, que um processo especial seja feito para conjugar testes sobre
novas tecnologias.
CONFIRA A REPERCUSSÃO DA AUDIÊNCIA PÚBLICA NA IMPRENSA:

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